dia 25 de Janeiro de 2024 marca 5 anos do rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale S.A, que atingiu o Baixo Paraopeba, a Represa de Três Marias e o Rio São Francisco.
O rompimento causou a morte de 272 pessoas e a contaminação por rejeitos de minério que atingiram municípios e comunidades das regiões 1 (Brumadinho), 2 (Betim, Igarapé, Juatuba Mário Campos e São Joaquim de Bicas), 3 (Esmeraldas, Pará de Minas, Florestal, São José da Varginha, Pequi, Maravilhas, Papagaios, Fortuna de Minas, Caetanópolis e Paraopeba), 4 (Pompéu e Curvelo) e 5 (São Gonçalo do Abaeté, Felixlândia, Morada Nova de Minas, Biquinhas, Paineiras, Martinho Campos, Abaeté e Três Marias) .
Até o momento, nenhuma pessoa foi presa e três vítimas seguem sem ter sido encontradas. Além disso, não há prazo para o julgamento da ação penal, que tramita na Justiça Federal.
A história de luta das comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em muitos momentos parece uma triste reprise da realidade enfrentada pelas pessoas atingidas pela barragem de Fundão, no Rio Doce, ocorrida em 05 de novembro de 2015. Três anos separam os dois casos, que envolvem a mesma empresa - Vale S.A, diretamente responsabilizada no caso de Brumadinho e no caso de Mariana, já que a Samarco é gerida por ela e pela inglesa BHP Billiton.
Vale lembrar que milhões de metros cúbicos de lama despejados (62 milhões na bacia do Rio Doce no caso de Fundão e 12,7 milhões na bacia do Paraopeba em Córrego do Feijão) são resultados de falhas com o mesmo método de armazenamento de rejeitos.
Em ambos os casos, as mineradoras optaram pelo método mais barato, simples e arriscado, com a construção de barragens à montante. O avanço da mineração exploratória causa uma série de danos nos territórios onde atua, seja pelo terror causado pela iminência de possíveis rompimentos, seja pelos locais em que milhares de pessoas e suas comunidades foram atingidas pelos rejeitos de minério.
“Tanto as pessoas atingidas pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho, quanto às pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, esperam e lutam por uma reparação justa e integral.”, é o que explica Geisiane Lima, Coordenadora Geral da ATI Cáritas Diocesana de Itabira.
Foto: João Carvalho / Cáritas Diocesana de Itabira
Morosidade do processo de reparação
A frustração da espera também é um elo entre as comunidades atingidas da Bacia do Paraopeba e da bacia do Rio Doce. Ambos os processos de reparação seguem sem solução, e as comunidades atingidas permanecem em busca das indenizações e dos processos de recuperação dos seus rios. Para os atingidos pela Barragem da Vale em Brumadinho, já são mais de 1800 dias que as pessoas atingidas seguem em busca de condições dignas para viver nos territórios atingidos enquanto aguardam pela reparação.
No caso do Rio Doce, mesmo com os programas indenizatórios- como o Programa de Indenização Mediada (PIM), o Sistema Indenizatório SImplificado NOVEL, e o Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) - uma parte considerável das pessoas atingidas segue sem as condições mínimas de manutenção de suas famílias no território enquanto esperam por suas indenizações e pela reparação dos danos que sofreram.
Diversas atividades marcam os 5 anos do rompimento
Desde o início da semana, uma série de atividades acontecem para fortalecer a memória das vítimas e cobrar o poder público por medidas justas de punição das mineradoras e reparação às pessoas atingidas, envolvendo entidades religiosas, Assessorias Técnicas Independentes, Universidades e Associações de Pessoas Atingidas.
No último domingo (21), amigos e parentes das vítimas participaram do segundo “Memory Day”, um passeio ciclístico de 12 km realizado em homenagem às vidas perdidas. Na mesma data, o curta-metragem “Água Rasa”, uma produção realizada em homenagem às comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Brumadinho, junto a pessoas atingidas de toda a bacia do Paraopeba e em parceria com o Instituto Guaicuy e o Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB), foi exibido na programação do 27º Festival de Cinema de Tiradentes, um dos maiores eventos do cinema brasileiro contemporâneo.
Na segunda-feira (22), ocorreu em Brumadinho o Seminário “5 Anos Sem Justiça”, reunindo familiares e amigos de vítimas das Tragédias de Brumadinho, Mariana (ocorrida em 5 de novembro de 2015), da Braskem em Maceió (ocorrida no dia 1º de Dezembro de 2023), e da Boate Kiss, em Santa Maria (ocorrida no dia 27 de janeiro de 2013).
No dia 25 de janeiro, acontece ainda em Brumadinho a V Romaria pela Ecologia Integral, organizada pela Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser) em homenagem às vítimas. A programação inclui celebração de missa no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário em Brumadinho e a caminhada até o letreiro em homenagem às vítimas, localizado na entrada da cidade.
Instituto Guaicuy, que assessora as comunidades das Regiões 4 e 5 na Bacia do Paraopeba, Represa de Três Marias e Rio São Francisco divulga dados e estudos elaborados junto às pessoas atingidas
Na última quarta-feira (24), o Instituto Guaicuy também realizou uma atividade de homenagem às 272 vítimas atingidas pelo rompimento da VALE e também de reforço à participação informada das pessoas atingidas no evento “Em busca de respostas: Divulgação de dados, estudos e produções elaborados com as pessoas atingidas do Baixo Paraopeba, Represa de Três Marias e Rio São Francisco”.
O espaço teve como objetivo divulgar e disponibilizar dados, estudos e produções elaboradas com as pessoas atingidas entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2024. Os trabalhos se deram no contexto do trabalho de Assessoria Técnica Independente de pessoas atingidas pela Vale nas chamadas Regiões 4 e 5 e incluem relatórios ambientais, de saúde, socioeconômicos e territoriais, entre outros.
Na ocasião, também foram lançados o documentário “De Angueretá a Barra do Rio de Janeiro: o rompimento da barragem da Vale para além de Brumadinho” e a revista ilustrada “Cinco anos do desastre-crime da Vale: no curso das águas, a luta por reparação”.
Clique aqui e veja os estudos divulgados
De acordo com Geisiane, que representou a ATI da Cáritas Diocesana de Itabira na atividade, “o evento marca positivamente o importante papel das Assessorias Técnicas Independentes que com seu trabalho qualificado viabiliza o acesso a informações técnicas, laudos e estudos de maneira acessível e confiável para as pessoas atingidas e a sociedade em geral.”
Ela explica que dados elaborados de modo independente são fundamentais para que os territórios atingidos entendam a real situação das suas comunidades. “Parabenizamos o IG pelo trabalho e pelos resultados apresentados, pois estes fortalecem e legitimam a luta.”
Assista a transmissão completa em: https://www.youtube.com/watch?v=uClmFq7UaLI