Ciclo de Formação virtual “Territórios em Resistência” promove troca de vivências e saberes com as pessoas atingidas

Promovido pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, por meio do PIPAM, o primeiro módulo da Formação teve a participação de Zé Durico, pescador atingido do Território 02 (Parque Estadual do Rio Doce e sua Zona de Amortecimento), e de Joelma Fernandes, ilheira atingida do Território 04 (Governador Valadares e Alpercata)

Na última quinta-feira (04), foi realizado o primeiro módulo do Ciclo de Formação virtual “Territórios em Resistência”, promovido pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, por meio do Projeto de Incidência na Pauta da Mineração (PIPAM), com apoio da ATI prestada pela Cáritas Diocesana de Itabira. 

A atividade tem como objetivo fortalecer a organização popular, ampliar a consciência crítica e potencializar as estratégias coletivas de defesa da vida, dos direitos e dos territórios. A Formação está estruturada em três módulos temáticos, sendo o primeiro com tema “Territórios Livres da Mineração” (TLM), que contou a participação especial do pescador atingido José Teodoro dos Santos (Zé Durico), morador de Pingo-d’Água, no Território do Parque Estadual do Rio Doce e sua Zona de Amortecimento (Território 02).

Clique aqui para assistir a transmissão na íntegra.

No primeiro módulo ocorreu o diálogo sobre o conceito de TLM, a partir da palestra feita pelo engenheiro florestal e gestor ambiental Jeans Carlos Martins, que apresentou um panorama da construção histórica da luta dos povos, em todo mundo, em prol da resistência e enfrentamento ao modelo de mineração que destrói patrimônios e as vivências dos territórios. “Resistência à mineração tem no país inteiro. Onde tem mineração, tem gente resistindo. A definição do próprio conceito de Territórios Livres de Mineração é um debate complexo, que ainda está em construção. Um Território Livre de Mineração não se restringe ao espaço geográfico, pois é, acima de tudo, uma experiência política de resistência e reivindicação, para que se proíba ou crie restrições à mineração”, explicou Jean, durante sua palestra. 

A luta por Territórios Livres da Mineração está articulada por um conjunto de movimentos sociais, comunidades organizadas e pesquisadores.

Conheça mais sobre os Territórios Livres de Mineração neste link. 

As vozes de luta e resistência das pessoas atingidas frente à mineração  

O módulo 1 da atividade de formação, garantiu espaço de fala para que as pessoas atingidas pela mineração pudessem relatar suas vivências sobre como os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão marcaram e continuam marcando suas vidas e de milhares de moradores dos territórios da bacia do Rio Doce. 

O pescador atingido Zé Durico, de Pingo-d’Água, no Território 02, relatou como o descaso e a falta de reconhecimento penalizam as pessoas atingidas. ”Nós vivemos uma luta incessante contra as injustiças sociais. Fora aquelas tragédias que são fúria da natureza, os desastres ecológicos que estão acontecendo são fruto da ganância e irresponsabilidade. Ganância dos grandes empresários e dos nossos políticos, porque não respeitam os direitos. Chorei apenas duas vezes na minha vida, quando minha mãe morreu e quando vi aquela tragédia da lama no Rio Doce”, afirmou Zé Durico

A forma como o poder público e as empresas responsáveis pelo rompimento da barragem de Fundão têm atuado no processo de reparação, também foi um ponto criticado por Zé Durico, que lembrou da falta de respeito com as pessoas atingidas, na violação de seus direitos e na destruição de suas formas de vida. “Um dia perguntaram para a Renova quando que vão entregar o Rio Doce do jeito que era antes, para que nossos filhos possam pescar. ‘Quando?’ Foi uma pergunta que ficou sem resposta. Nós atingidos falamos com o sentimento. Na nossa região, tiraram nosso direito de ir e vir. Aqui, somos tratados como marginais, somos humilhados. As mineradoras são as criminosas, mas nós é que somos punidos. Enquanto os criminosos nadam de braçada, a população é julgada como marginalizada. Nenhum projeto da Renova deu resultado. As mineradoras dizem que estão recuperando as margens do rio. Onde está a recuperação? É mais uma pergunta que fica no ar. Os funcionários da Renova foram treinados para nos enganar e conseguiram”.

A agricultora familiar atingida Joelma Fernandes, que é ilheira no Território 04, de Governador Valadares e Alpercata, também relatou sua indignação sobre os danos que a mineração causou e continua causando em seu modo de vida e de toda a comunidade. “Na nossa área aqui não se pratica mineração, então a gente não sabia que existia um ‘dragão tão grande’ em cima de nós chamado Vale. Depois do rompimento ficou até difícil navegar de tão pesada que ficou a água, porque danifica o motor do barco. Agora, a gente que planta fica pensando, será que estamos vendendo coisas contaminadas para os nossos fregueses? Falar, a gente fala, mas não escutam. A gente está se sentido usado neste processo todo. A nossa rua é o Rio Doce, o qual me sustentou desde que nasci e que também sustenta meus filhos e netos. Espero que ouçam a nossa voz, porque o rio não tem voz, o Rio Doce não tem voz”, relatou Joelma. 

O ciclo de Formação “Territórios em Resistência” é uma iniciativa que faz parte do conjunto de ações promovidas pela Cáritas Regional Minas Gerais, por meio do Projeto de Incidência na Pauta da Mineração (PIPAM), um programa que busca o fortalecimento de grupos de atingidos e atingidas, de coletivos e organizações sociais atuantes no enfrentamento à mineração. “Para isso, realizamos espaços formativos e debates, como esse, que são articulados, sobre noções de resistência ao projeto de mineração vigente no estado e no país”, explicou Bruna Camargos, coordenadora do PIPAM, durante a formação. 

A Formação está sendo realizada em três módulos. Os próximos encontros estão programados para os dias 02 de outubro e 06 de novembro. O módulo 2 terá como tema “Povos e Comunidades Tradicionais” e o módulo 3 “O que esperar da COP 30?”. A atividade seguirá no formato virtual, por meio do canal da Cáritas Regional Minas Gerais no Youtube. 

Quer saber mais? Clique aqui para se inscrever, e acompanhar as agendas dos próximos módulos do ciclo de formação “Territórios em Resistência”. 

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