Ciranda é um espaço para expressão e participação das crianças e jovens atingidos como sujeitos de direito
A agenda de atividades de campo da Assessoria Técnica Independente (ATI) junto às comunidades atingidas nos 13 municípios assessorados pela Cáritas Diocesana de Itabira é intensa. São diversas oficinas, assembleias, rodas de diálogo, reuniões ampliadas e outros encontros para tratar do direito das pessoas atingidas. Mas onde as crianças e os adolescentes se encontram, nesse cenário? Foi pensando nas crianças e jovens como sujeitos de direito que a equipe de Humanidades e Educação do projeto de Assessoria Técnica Independente da Cáritas Diocesana de Itabira deu início à Ciranda Cáritas. Trata-se de uma proposta metodológica, ainda em construção, de trabalho com crianças e adolescentes.
A Ciranda surge da observação da presença de um público infantojuvenil acompanhando seus pais, avós, tios e tias nos diferentes espaços participativos, o que reforça a necessidade de facilitar a participação dos responsáveis pelas crianças e adolescentes nos momentos de deliberação e, principalmente, a importância de se construir espaços de acolhimento, reflexão e entendimento desse público sujeitos também atingidos e que sofrem com os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão.
O projeto teve sua edição piloto realizada entre os dias 18 e 20 de outubro de 2023 pela equipe de Humanidades e Educação juntamente com a mobilização, durante as Assembleias Municipal e Territorial em Jurumirim, município de Rio Casca, durante o processo de Consolidação das Comissões Locais de Atingidos.
A equipe contabilizou 53 participantes entre crianças e jovens, de 5 a 20 anos. Segundo a própria equipe, as práticas realizadas se baseiam nos princípios da educação popular de Paulo Freire e na valorização dos saberes das crianças e adolescentes e suas realidades culturais na construção de novos saberes, possibilitando assim a formação de sujeitos com conhecimento e consciência cidadã. Utilizando ferramentas como círculos de cultura, rodas de conversa e produções artísticas buscou-se promover a interação entre esse público e a realidade que eles vivenciam em seu cotidiano, de forma a promover constante troca de conhecimentos e reflexões.
A equipe tem trabalhado na criação e implementação de Caixas Didáticas da Ciranda Cáritas. Essa ferramenta pedagógica reúne um conjunto de materiais e atividades pensados especificamente para crianças e adolescentes, em sua diversidade, com temas relacionados ao processo de reparação integral, direitos humanos, aspectos socioculturais dos territórios e comunidades em que vivem.
Amanda Cleomara, da equipe de Humanidades e Educação, ressalta que entender as juventudes como sujeitos de direitos violados, atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, é essencial para o processo de reparação integral. “Como podemos lutar ao lado das pessoas atingidas se não reconhecemos os danos sofridos pelo público infantojuvenil e não consideramos suas propostas? A Ciranda Cáritas, muito além de espaço de distração, precisa ser espaço de escuta e de formação cidadã para que essa nova geração possa falar com propriedade sobre suas perdas e ocupar os espaços de participação social”.