Ministério da Saúde promove oficinas com comunidades quilombolas atingidas dos Territórios de Rio Casca e Adjacências e Parque Estadual do Rio Doce e sua Zona de Amortecimento

Oficinas visam compreender as demandas prioritárias sobre o tema da  saúde nas comunidades tradicionais da Bacia do Rio Doce

Foto: Júlia Militão/Cáritas Diocesana de Itabira

Foto: Júlia Militão/Cáritas Diocesana de Itabira

Nos dias 23, 24 e 27 de julho, comunidades quilombolas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, dos territórios 01 (Rio Casca e Adjacências) e 02 (Parque Estadual do Rio Doce e sua Zona de Amortecimento), receberam a visita de representantes do Ministério da Saúde para as Oficinas Quilombolas do Programa Especial de Saúde do Rio Doce. 

Com o objetivo de compreender os danos à saúde sofridos e as práticas de saúde das populações quilombolas nestes territórios, foram realizadas seis oficinas com essas comunidades. Foi um momento importante para conhecer como as pessoas atingidas destas comunidades acessam os serviços de saúde e construir, a partir dessa escuta, um planejamento de ações específicas para as unidades que atendem populações tradicionais. 

Os encontros contaram com a participação de 242 pessoas atingidas, de nove comunidades quilombolas assessoradas pela ATI Cáritas Diocesana de Itabira: Celeste, situada em Marliéria; Grota dos Bernardos, em Raul Soares; além de Mumbaça, Fazenda do Pena, Barro Preto, Surrão, Areião, Bateeiro e Serra, todas localizadas no município de São Domingos do Prata. Também contou com a presença e o apoio da ATI Cáritas Diocesana de Itabira e de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar (MDA).

“Uma das coisas que a população tem nos falado sempre é a importância da participação nesse contexto. Eles questionam a questão da Repactuação e, agora, querem e têm o direito de participar das escolhas das políticas públicas de saúde. […] A gente está fazendo essa oficina de base territorial, para conseguir desenhar com as comunidades quais são as prioridades para essas comunidades no território. […] É um momento de ajustes dos Planos de Ação [dos municípios] para os próximos dois anos, e a gente tá na escrita e elaboração do Plano de Ação do Ministério da Saúde e do Estado. Então, nesse momento, é estratégico a gente dialogar com a população”, explica Gabriela Reis (integrante do Ministério da Saúde que compõe o Programa Especial de Saúde do Rio Doce e da Coordenação Geral que cuida da vigilância em saúde e ambiente e da saúde das populações e comunidades tradicionais).

Compreendendo que são povos historicamente vulnerabilizados, o Ministério da Saúde está priorizando, neste momento, as comunidades quilombolas, para assegurar a participação, a construção e o protagonismo popular nesse processo de escuta. “Também, pelos princípios do SUS, atendendo especialmente o princípio da equidade, de atender necessidades diferentes de pessoas diferentes”, complementa Paula Junqueira Mota, integrante da Coordenação que trata de integrações de redes à saúde do Ministério.

Como as pessoas atingidas contribuíram nas oficinas? 

Os participantes das oficinas foram divididos em grupos para a realização de uma cartografia social. Cada grupo construiu um “mapa” que identifica os serviços de saúde; os lugares e pessoas que contribuem na promoção da saúde na comunidade; como é o acesso aos serviços e às práticas de saúde; os deslocamentos e recursos necessários, no cotidiano, para a busca por esses serviços; os profissionais de saúde que atuam (ou não) nas comunidades; entre outros.

Foram elencados(as) representantes das comunidades e suas moradias, pontos de encontro e lazer, benzedeiras, produtoras de chás com plantas medicinais, locais de abastecimento de água, etc. Também, as comunidades pontuaram a distância de suas comunidades até os pontos mais próximos para acesso a serviços, seja por um agente comunitário ou especialista.

“Foi uma oportunidade em que foi possível apresentarmos nossos problemas e dificuldades em questão de saúde, como a distância para chegarmos aos lugares de atendimento, como postos de saúde, hospital, laboratórios e especialidades em saúde. Falamos também da falta de alguns medicamentos, falta de saneamento básico e o consumo de água sem tratamento. Acho interessante poder falar e ser ouvida pelo Ministério da Saúde e a partir desse diálogo esperamos que nossos problemas sejam solucionados da melhor maneira possível”, comenta Maria Perpétua, moradora do quilombo Mumbaça, em São Domingos do Prata.

“De acordo com o crescimento da comunidade vêm também as demandas, né? Aumentaram muito as demandas da comunidade, então foi muito prazeroso pra gente ter a oportunidade de apresentar essas demandas diretamente ao Ministério da Saúde”, pontuou Suelen Santos, moradora da comunidade quilombola Celeste, no município de Marliéria.

Além da realização das cartografias, o Ministério da Saúde visitou as Unidades Básicas de Saúde e as Unidades de Estratégia de Saúde da Família que atendem essas comunidades, com o objetivo de conhecer a estruturas, as práticas e serviços e os conhecimentos dos profissionais em relação à saúde quilombola, para pensar um planejamento de ações específicas para essas unidades. 

“A partir dessas visitas, a gente vai ter um checklist, mas também uma visão das Unidades de Saúde. Algumas precisam de reforma, ampliação, algumas precisam só de algum equipamento que atenderia melhor a população. Então, a ideia é a gente ter essa visão integral do atendimento que eles têm e apontar coisas que às vezes nem eles estão falando e a gente pode ver que pode ajudar em alguma coisa”, ressaltou Gabriela Reis. 

Perspectivas 

Essa primeira rodada de oficinas aconteceu entre os dias 23 de julho e 1º de agosto, com comunidades quilombolas do estado de Minas Gerais. No próximo mês, de acordo com o Ministério da Saúde, serão realizadas as oficinas no Espírito Santo. 

Após esses encontros, “a gente vai discutir em que cada ente federado (município, estado e união) pode se responsabilizar. Então, a ideia é a gente desenhar com a comunidade algumas coisas, apresentar o que a gente desenhou e ver se faz sentido”, pontua Gabriela Reis. 

Ainda que os Planos de Ação em Saúde dos municípios já tenham sido entregues e apresentados, o Ministério da Saúde afirma que será possível reajustar alguns aspectos, considerando o que tem sido dialogado com as comunidades tradicionais. “A gente percebeu que poderia fazer essa ponte para garantir, com mais efetividade, ações voltadas para esse público de quilombolas, indígenas e outras comunidades e povos tradicionais, e aí a gente veio então com esse objetivo de fazer o levantamento de toda essa dinâmica da busca pela cuidado, seja das práticas tradicionais, ou através do serviços de saúde, de todos os problemas enfrentados”, ressaltou Paula Mota.

Paula também comentou sobre a importância desse momento de escuta e da presença do Ministério da saúde nas comunidades atingidas: “O primordial é que não existe um trabalho que seja tão qualificado se a gente não conhecer a realidade do território. Então, essa vinda da equipe para campo, além de conhecer, é criar vínculo e também trazer uma esperança para as pessoas. O corpo a corpo é diferente de estar em espaços online. É importante que as pessoas também conheçam e confiem na equipe, falem sobre o que elas querem, pra gente conhecer o território e qualificar o trabalho de planejamento”, finalizou.

Confira as fotos das Oficinas: 

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