No dia 22 de setembro, a comunidade de Santa Rita, em Marliéria, celebrou a festa de Nossa Senhora do Rosário. A celebração contou com a participação da Marujada e do Congado de São José dos Cocais/Coronel Fabriciano, que marcam o sincretismo do catolicismo e de elementos de religiões de matriz africana.
O festejo não era realizado há cerca de 12 anos e, em 2023, a rainha e o rei, Cleonice e Vicente, resolveram assumir a festa e resgatar a tradição que agrega, também, muitos sonhos e alegrias dos moradores da comunidade.
“A festa daqui da comunidade de Santa Rita é uma festa maravilhosa, que existia há muito tempo, toda vida, desde criança eu conheço essa festa aqui e participei muito. Minha mãe foi rainha várias vezes. Era uma festa muito bonita, que tinha acabado. Agora, no ano passado, eu e meu marido resolvemos levantar essa festa de volta”, afirma Cleonice Pereira.
Vicente Pereira conta que assumiu o reinado em homenagem à sua mãe: “hoje eu peguei a responsabilidade de ser rei, porque era o sonho da minha mãe um dia ser rainha da festa do Rosário, só que as coisas antes eram mais difíceis que hoje. Ela acabou falecendo, morreu sem realizar esse sonho de ser rainha. Aí eu resolvi. Sou filho dela, mas vou carregar essa cruz pra sempre. Quando entrou o congado na igreja, eu chorei, eu senti ela. Era o sonho dela. Hoje, graças a Deus, nós pudemos fazer”.
A festa de Nossa Senhora do Rosário é uma demonstração da fé na Santa protetora das pessoas negras, tradição que ganhou forma com o passar dos anos, marcada pela religiosidade e resistência do povo negro desde o período da escravidão.
Neste ano, toda a comunidade foi enfeitada com fitas e bandeiras para receber o festejo. O início da celebração ocorreu na casa do Rei e da Rainha, onde foi servido um café da manhã com pães, bolos, mandioca cozida, biscoitos, café, chá e a alegria do Rei e da Rainha em recepcionar as pessoas que participaram da manifestação religiosa.
Em seguida, todos(as) seguiram em procissão até a Igreja Santa Rita, para a celebração da missa, o levantamento da bandeira de Nossa Senhora do Rosário e a coroação dos próximos Rei e Rainha, que irão preparar o festejo do ano seguinte. Após o almoço, houve a apresentação tradicional das Guardas de Congado e de Marujos com a dança das fitas.
Rogéria de Oliveira conta que ser coroada a Rainha da próxima festa do Rosário, para ela, foi muito emocionante. “Pra mim foi maravilhoso, é um sonho meu. Eu conheço desde criança e achei muito triste que tinha acabado. Agora que voltou, tô muito feliz, espero que continue e que venham mais pessoas”.
Apesar da alegria da celebração, Cleonice lembrou que boa parte das comidas que eram tradicionalmente feitas no dia do festejo não são mais produzidas na comunidade. Para ela, essa perda tem relação com os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão: “A comida que a gente faz o café, essas coisas davam muito aqui no nosso município. Banana cozida, hoje não tem mais, só se a gente comprar pra fazer o café. Muita coisa, mandioca, inhame, hoje a gente não tá mais produzindo, devido ao rompimento da barragem de Fundão que teve em Mariana”, afirmou.
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