No dia 05 de novembro, a ATI prestada pela Cáritas Diocesana de Itabira promoveu uma reunião virtual com as pessoas atingidas dos Territórios de Rio Casca e Adjacências e do Parque Estadual do Rio Doce e sua Zona de Amortecimento com o tema “Memória dos 09 anos do rompimento e informações importantes sobre a Repactuação”.

A reunião teve início com a apresentação de um vídeo produzido pela ATI, que trata dos nove anos do rompimento. Após a apresentação, diversas pessoas se manifestaram. Os relatos dizem da angústia, da indignação e do sentimento de injustiça que marcam a data.
“O dia de hoje é um dia de muita tristeza. Há 9 anos, a gente estava colhendo banana, vendendo leite. Assim como quem mora na calha foi atingido, a população ribeirinha e as comunidades de canto, toda a bacia, toda a regional foram atingidas. Na repactuação, não aparece na voz dos grandes o nome das empresas criminosas.” - Felipe Godoy - Ponta do Tomazinho, Timóteo
Creuza Santos, de Revés do Belém, em Bom Jesus do Galho, conta que toda a família usava água do rio para cozinhar: “A gente cozinhava com água do rio. Após o rompimento, comi um peixe do rio e precisei ser internada. Passei mal e meu neto também. Fiquei com balão de oxigênio. Até hoje tomo remédio, fiquei cheia de caroços pelo corpo.”
As pessoas atingidas também relataram que o sofrimento do dia 05 de novembro de 2015 tem sido agravado em razão da ausência de medidas efetivas de reparação, resultando em uma Repactuação que, de acordo com os relatos, não representou as vozes e os interesses das pessoas atingidas:
“Ver esse vídeo corta a alma e o coração, porque nos remete à data daquele fatídico acontecimento. Ficou claro que o crime compensa, porque essa repactuação é favorável às empresas e aos criminosos. Ela não é favorável às pessoas que perderam produção, subsistência, às pessoas que adoeceram. Essas pessoas não foram amparadas, foram ignoradas.” - Agnaldo Santos - Dionísio
A coordenadora institucional e metodológica da ATI Cáritas Diocesana de Itabira, Ana Paula Santos Alves, informou sobre os próximos passos apresentados no texto da repactuação após a assinatura do acordo e manifestou, ainda, solidariedade às pessoas atingidas: “Somos solidários à dor de vocês. Contem conosco neste novo momento, a partir das ações apresentadas pela repactuação, e estaremos juntos nos caminhos em busca de acessar o que é de direito de vocês”.
A assessora da equipe Jurídica de Reparação, Thayná Nunes, apresentou aos (às) participantes informações relacionadas às indenizações, ao Programa de Indenização Definitiva (PID) e ao Programa de Transferência de Renda (PTR), previstas na Repactuação. Entre os pontos apresentados, informou sobre a necessidade de advogados e do cuidado necessário nesta etapa, reforçando que o serviço prestado por eles será pago pelas empresas, e não pelas pessoas atingidas.
Após a apresentação dos critérios para recebimento de indenizações, as pessoas manifestaram insatisfação sobre a forma como o processo de Repactuação foi conduzido. Entre os questionamentos, está o de que as pessoas atingidas ficaram reféns de um acordo que ocorreu sem sua participação.
"O que eles fizeram foi sem a participação dos atingidos. A gente tem carteirinha de pesca, paga por ela, mas eles não consideraram essa que a gente tem. A gente esperava uma repactuação melhor". - Osvaldo Modesto - Córrego Novo
No encontro, Geisiane Lima, Coordenadora Geral da ATI Cáritas Diocesana de Itabira, encerrou a atividade dizendo sobre a importância de ouvir as pessoas atingidas e o que sentem diante do novo pacto, sobretudo no dia que marca os nove anos do rompimento da barragem.
“Fazer memória aos nove anos de violações e ainda ter que discutir a Repactuação, um texto denso e cheio de insatisfações por parte das pessoas atingidas, é difícil, mas não podemos deixar de lutar. A construção é coletiva, estamos no mesmo caminho com as mesmas intenções.” - Geisiane Lima, Coordenadora Geral da ATI Cáritas Diocesana de Itabira
Ao final, a ATI reforçou que diversas atividades estão acontecendo, bem como a preparação e divulgação de materiais como cartilhas, podcasts, informes, entre outros, e que a equipe está e permanecerá conduzindo espaços participativos em todos os municípios para levar informações sobre a Repactuação.
Confira o vídeo produzido pela Cáritas Diocesana de Itabira sobre os nove anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, clicando no link aqui.
Na manhã seguinte à data da reunião, no dia 06 de novembro, a Repactuação foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A assinatura ocorreu em 25 de outubro, em cerimônia com representantes do Governo Federal, dos governos de Minas Gerais e Espírito Santo e das empresas Samarco, Vale e BHP.